terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Capítulo 1- A Fábrica

Era uma chuvosa manhã de outubro, de uma quarta-feira qualquer. Estava sentado com o meu terno de linho preto, o único que na época possuía. Estava em uma sala sem muitos atrativos, exceto um homem de óculos profundos, calvo e com cara de poucos amigos. Ele rodava constantemente uma caneta entre os dedos e observava a porta do Dr. Nogueira, o nosso chefe.
Não estávamos sós naquela sala, junto a mim estavam mais 12 empregados da fábrica. Ainda que fossem muitos empregados naquele recinto, eu admito que conseguia me destacar pelos meus cabelos brancos e pelas linhas da idade formando quase um desenho simétrico no meu rosto, que ia da minha testa até o início dos meus olhos.
Todos estávamos apreensivos, quando finalmente o Dr.Nogueira entrou na modesta sala e chamou o homem de óculos. Eles ficaram ausentes por aproximadamente meia hora e depois voltaram a sala com um ar frio e enfadonho.
O DR. Nogueira olhou a todos e sem pestanejar parou o olhar em minha direção e pediu a todos que se retirassem, com exceção de mim.
Arrastou uma cadeira e colocando a mão no meu ombro disse:
- Seu Orlando, sei que o senhor já esta comigo já faz muitos anos, mais estamos passando por uma reforma em nossa empresa, e apesar de você já estar aqui a 32 anos, eu..
Acabei por interrompe-lo:
- Me desculpe senhor, há 42 para ser mais exato.
Ele continuo como se essa diferença de uma década não tivesse nenhuma importância.
- que seja, nós da diretoria chegamos a conclusão de que o senhor já esta velho demais para continuar trabalhando nesta fábrica.
E continuo:
E ainda que o senhor seja um ótimo alfaiate, hoje em dia não estamos precisando de alfaiates. Gastamos uma fortuna com maquinários e estilistas de mais prestigio que você. Sendo assim iremos lhe pagar os seus direitos e dispensa-lo, espero que não guarde nenhum ressentimento, afinal somos amigos.
E acabou o comunicado com um sorriso amarelo e seco.
Nesse mesmo tempo não acreditava naquilo que estava ouvindo, tinha me dedicado 40 anos da minha vida por uma fábrica, que agora, estava me dispensando por um corte estúpido de custo, digo estúpido pois o meu salário estava longe de ser algo significativo nos custos do lugar.
Tentei argumentar, mais aquele tal Doutor não estava sequer ouvindo as minhas razões, e olhava o seu relógio de pulso enquanto eu falava, idiotizando quase que totalmente os meus argumentos.
Depois de quase 10 minutos tentando argumentar, o Dr me deu as costas e apenas me disse:
-Passe mais tarde na minha sala e pegue os seus direitos.
E assim foi. Ao chegar na sala do meu chefe, ele não me olhou na cara e me entregou uma quantia equivalente a 10 mil reais em dinheiro vivo em um envelope amarelado e um tanto amassado.
Ainda hoje me lembro do portão da fábrica se fechando, os amigos me abraçando ( muitos deles com lágrimas nos olhos e 20 anos mais jovens ) e eu do lado de fora da fábrica com um envelope nas mãos.

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